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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Por que voto em Serra - Maurício Paroni de Castro

Tenho uma centena de excelentes razões para isso. Mas, acima de tudo, Serra significa libertação de ranços ideológicos anacrônicos em favor de uma mentalidade arejada. Ao cultivar a sensibilidade e humanidade semeadas na pobreza honrada daquela Mooca que jamais traiu, uma vez no poder, continua próximo das pessoas simples. Inventaram a falsa lenda de sua “seriedade”, confundida maldosamente com a educação severa do menino pobre que foi. Albert Camus saberia explicar melhor a qual injustiça instrumental me refiro.

Conheci-o quando era prefeito de São Paulo, em casa de um amigo comum. “Indormível”, como o definiram no Twitter (lança mão de tudo que o aproxime das pessoas comuns), apareceu repentinamente na madrugada, prazer anti-protocolar desfrutado quando lhe é permitido. Conversamos sobre os problemas de nossa sociedade, sobre a Itália, sobre comida, sobre Pirandello, sobre… teatro e cinema (!). Desde então, nos comunicamos com frequência. Fiquei feliz com a simpática sem-cerimônia política desse relacionamento.

Entre a gente de esquerda - a que meu ideário artístico é mais próximo - jamais conheci político - culto - com a mente tão aberta ao diálogo. Artistas e políticos ligados ao nosso meio são, quase todos, parte inerte de aparelhos ideológicos, de direita ou de esquerda; gente que faz o que lhes é ordenado, sem pensar, sem meio átimo de reflexão. Artistas submetidos cegamente a qualquer poder que lhes permita produzir a "própria arte". Artistas submetidos ao silêncio, auto-imposto pelo medo de “ficar de fora”. São artistas, esses? Não, se entendermos um artista como uma pessoa que trabalha com relações humanas.

Fui estudar e trabalhar na Itália porque sonhava uma escola de teatro frequentável por quem não pode pagar mensalidades. Uma escola central e acessível a quem vive na periferia, privado de qualquer perspectiva existencial e cultural, onde secularmente estão confinados os reais explorados do Brasil. Uma escola técnica, com aulas em horário e condução pública praticáveis, longe de preconceitos e ideologias. Um bem público de verdade, em suma.

Serra criou essa escola e outras iniciativas educativas dessa natureza, em ritmo constante e sem lesionar meios. Aloca o dinheiro e o poder sistematicamente no lugar certo, não se pode negar a evidência. Age na direção de um projeto para uma nação de futuro, de cultura, de real educação popular. É revolucionário propor o aprendizado de linguagem a quem foi hipocritamente proibido de contar seu sofrimento e felicidade. Atualmente o fazem (mal, ao tratar a coisa como faroeste) seus “artistas” da classe média pra cima, aquilo que puderam estudar em escolas de elite. De esquerda e de direita, repito. Porque ele viveu isso na pele e tem formação qualificada, não passa um segundo sem realizar tais ações de governo. As viabiliza ao ser capaz de agregar pessoas livres, além de legitimamente ambicioso. O poder para ele não é um projeto vazio; é um instrumento radical. Nada mais. Serra ara a terra do futuro. A terra da arte também. O Brasil vai se lembrar disso. Enquanto cidadão, artista e professor, voto e acredito em José Serra porque ele me representa de verdade.

Maurício Paroni de Castro
Diretor de teatro, roteirista e professor

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